A história de Nininho Tomás
A História de Nininho Tomás
Quando Nininho nasceu, sua mãe dona Judite já havia perdido quatro filhos com o chamado “Mal de Sete Dias”. Com muito medo de Nininho também morrer deste mal, dona Judite o entregou ainda recém nascido para sua mãe dona Balbina tentar salvar o menino, pois não queria ver mais um filho morto. Nininho ficou com sua avó por alguns meses e logo em seguida voltou para os braços de dona Judite forte e fora do perigo do tenebroso “Mal dos Sete Dias”.
Nininho nasceu tão fraquinho que Joaquim do Manoel do Tomás, neto do velho Tomás, cujo nome deu origem ao Sítio do Tomás, apostou com dona Balbina uma cabrita caso ele se salvasse. O pessoal do Sítio ficou por muitos anos cobrando do Joaquim a velha promessa que ele veio a pagar quando Nininho já era um rapazote, não pagou com uma cabrita, mas com uma marram de cabra. É importante registrar os grandes feitos de dona Balbina no Sítio do
Tomás, pois ela era uma espécie de médica catingueira, pois curava velhos, meninos e animais. Os animais e meninos chegavam à casa de Vó Balbina com um braço ou perna quebrados e ela logo resolvia o problema fazendo uma tala de casca de pau, como angico e outras plantas catingueiras que só Vó Balbina sabia bem para que servia. Era especialista em salvar crianças desnutridas, por isto a última esperança de dona Judite ao entregar Nininho recém nascido para dona Balbina.
Vó Balbina também era muito conhecida por seu talento em todas as formas de artesanato, tais como: chapéu de palha, esteira, abanador, bogó, cestos, balaios, redes, porta escova de dente e muitos outros. Seu avô Tatu era homem muito respeitado no povoado, muito religioso e amigo de todos. Morreu em 2014, com 99 anos sem nenhum intrigado. Vô Tatu era amigo de infância do coronel Jerônimo Ribeiro e em 2005 quando Nininho foi visitá-lo, o coronel Jerônimo lhe disse que muito antes dele entrar para a política, vô Tatu já falava que ele era o homem que tinha o jeito, dom e inteligência para ser prefeito de Uauá. Vô Tatu provou que não estava errado, pois o coronel Jerônimo Ribeiro foi prefeito de Uauá por quatro vezes e foi o grande exemplo de político correto, humano e competente.
Em 1981, o velho Jerônimo como é conhecido por muitos, hospedou por uma semana em sua casa, o grande escritor, jornalista, nobre e político peruano Mário Vargas LLossa, que escreveu o livro “Guerra do Fim do Mundo”, inspirado nos fatos históricos da Guerra de Canudos e contendo uma riqueza de detalhes sobre a vida do sertão baiano. Na época o coronel Jerônimo, cedeu sua biblioteca e colaborou com relatos sobre a Guerra de Canudos e a vida no sertão.
Para tentar salvar Nininho sua mãe também fez promessa de levá-lo a Santa Cruz de Monte Santo antes dos sete anos de vida. Aos três anos de idade Nininho subiu a pé os três quilômetros de subida da Santa Cruz para pagar a promessa. Nininho já nasceu guerreiro e com sede de saber, por volta dos oito anos de idade, como no Sitio do Tomás não havia escola, ele por conta própria, apesar de morar em uma boa fazenda, onde a comida era farta e
ter uma ligação muito forte com seu pai Joaquim, pediu para ir morar uns tempos com sua tia Marina na Fazenda Rio do Rancho, só para poder aprender a assinar seu nome e ler os tão sonhados cordéis, arte que sempre lhe serviu de estímulo para tudo que fazia. Tia Marina trabalhava fazendo serviços de casa e seu marido Joaquim trabalhava
como vaqueiro nesta Fazenda. Nininho se encantava tanto com os cordéis que mesmo sem saber ler, pedia para alguém ler por três ou quatro vezes, até decorar, saia contando pelas casas de farinha e todo lugar onde tinha algumas pessoas reunidas. O pessoal ficava admirado de ver aquele pequeno menino franzino contando com tanta empolgação aqueles maravilhosos cordéis.
A escola na Fazenda Rio do Rancho foi criada pelo Padre Dom Jaques que tinha uma fazenda ao lado onde a tia de Nininho trabalhava. A professora era dona Ester do Sítio de Baixo, pessoa pela qual Nininho até hoje tem grande gratidão e admiração. Para poder estudar nesta Fazenda, Nininho com apenas oito anos de idade, trabalhava na parte da manhã puxando água na cacimba para dar ao gado (trabalho de homem feito), a tarde estudava e uma vez por semana, à noite, ia para a missa na própria fazenda.
A paixão pela música começou na Fazenda Rio do Rancho, pois Joaquim, marido de sua tia Marina tinha uma radióla, coisa rara na região. Nininho, com apenas oito anos de idade, não via a hora de o dia acabar
para ficar ouvindo as músicas da radióla. Ficava encantando ouvindo Amado Batista e Roberto Carlos, os cantores românticos da época. Quando seu pai ia buscá-lo de jegue uma vez por mês para levá-lo para casa ele ia o caminho inteiro cantando as músicas que ouvia na radióla, deixando seu pai atordoado a viagem inteira, que durava quase três horas.
Aos nove anos de idade Nininho sofreu uma grande tristeza ao ver seus pais se separarem e sua mãe ir embora para São Paulo, deixando seu pai com quatro filhos pequenos para criar. Até na separação de seus pais a vida de Nininho é diferente, pois no Nordeste sempre é o pai que vai para São Paulo e deixa mulher e filhos no Sertão.
A admiração, respeito e amor por seu pai Joaquim aumentou ainda mais, pois ele passou a ser pai e mãe de todos. Seu pai Joaquim sempre foi seu espelho, pois era um homem justo, trabalhador e honesto. Quando matava um bode sempre dividia em quatro partes, ficava com uma parte e levava o restante para alguém que ele sabia não tinha nada para por na panela. Sua plantação de milho, feijão de corda e melancia era sempre dividida com todos da região. As pessoas traziam seus balaios vazios e levam cheios. Era um momento de muita alegria para seu pai Joaquim.
Com o decorrer do tempo seus irmãos ganharam outros rumos, seu irmão Lucas, o mais velho, então com quinze anos, foi morar com Vó Balbina juntamente com seu irmão mais novo, Edmilson (conhecido como Memê), com seis anos. Na pequena fazenda da família restou apenas Seu Jaoquim, Nininho e seu irmão Teodoro, com quatorze anos.
Teodoro era o cozinheiro da casa. Com o passar do tempo Lucas e Teodoro foram morar em São Paulo. Restando apenas Nininho e seu pai Joaquim na pequena fazenda. A ligação com seu pai fica ainda mais fortalecida.
Nininho conta uma passagem muito interessante, na pequena fazenda haviam muitos trabalhadores, dentre os quais, dois irmãos da Fazenda Mandacaru, chamados Sandoval e Romualdo (conhecido como Nego), que passavam o dia cantando. O dinheiro estava curto e seu pai precisava diminuir o número de trabalhadores e disse a Nininho que os
cantadores ele não podia abrir mão, pois ficava encantado com sua alegria e o belo dueto dos irmãos. Sandoval era autodidata, tocava muito bem violão. Quando eles foram embora da pequena fazenda de seu pai, Nininho nos autos de seus dez anos, ia na hora do almoço dos irmãos cantadores, só para ouvir Sandoval tocar violão. Nininho sempre inquieto, após realizar o sonho de aprender a ler, começou a se enveredar para o lado musical. Com apenas onze anos começo a fazer pequenos “bicos” no bar do Paulinho, próximo a sua casa, só para ouvir Janjão, Kavachão e Luiz Caldas, seu grande ídolo.
Com doze anos de idade Nininho teve pneumonia, e precisou ser internado no hospital de Uauá por quase uma semana. Até então nunca havia saído do Sítio do Tomás, não conhecia sequer sua cidade de Uauá, que ficava a 35 km do Sítio. Não conhecia energia elétrica, chuveiro, água de torneira e as modernidades da cidade. A médica que atendeu Nininho soube que sua mãe morava em São Paulo e disse que ele teria que ir para São Paulo se tratar, pois não tinha outra saída, o vai ou morre, disse ela.
Nininho pensou em fugir do hospital, mas estava se sentindo muito fraco e sabia que não iria conseguir. Neste meio tempo sua mãe foi avisada que seu estado de saúde era grave e foi até Uauá para buscá-lo e trazer para São Paulo para fazer o tratamento. A cena de sua partida foi muito triste, pois seu pai foi uma boa parte da estrada, montado em seu jegue, seguindo o carro de Doninho, onde estava Nininho e sua mãe Judite, rumo a Monte Santo para embarcar no ônibus da Gontijo rumo a São Paulo.
Nininho chega direto do sertão catingueiro, para a rua Oscar Freira, próxima a Av. Paulista, a mais chique e famosa de São Paulo, onde sua mãe trabalhava com uma médica do Hospital São Paulo, aonde Nininho iria fazer o tratamento da pneumonia. Dá para imaginar o choque do menino de apenas doze anos nesta grande selva de pedra. Mais uma luta que Nininho teria que enfrentar. Após muitos exames, os médicos chegaram à conclusão que Nininho já tinha curado a pneumonia em Uauá. Nininho ficou aliviado e quis logo voltar para junto de seu pai e de seus bichos. Os patrões de sua mãe perceberam que Nininho tinha uma vontade muito grande de aprender e era muito inteligente, pois em apenas seis meses, um menino vindo da roça, aprendeu a se virar na capital paulista, então propuseram a ele bancar seus estudos em São Paulo nas melhores escolas, mas Nininho não agüentava mais de saudades de seu pai, seus bichos, dos caminhos, de sua terra, sua gente, suas origens e acabou voltando para o Sítio do Tomás.
Após quase três anos, então com quinze anos de idade, Nininho percebeu que precisava voltar para São Paulo, pois após conhecer a grande metrópole, percebeu que suas chances para crescer estavam aqui.
Chegando em São Paulo com quinze anos e como amava mexer com a terra e tinha experiência com plantação na pequena fazenda de seu pai, procurou um trabalho como jardineiro, para amenizar a saudade de mexer com a terra. Neste meio tempo, Fausto, marido de sua tia Bibita, que trabalhava como jardineiro na mansão de um casal de gregos que moravam em Moema, precisava tirar férias e indicou Nininho para ficar em seu lugar por quinze dias. Passados os quinze dias, quando voltou ao trabalho, o casal havia gostado tanto do trabalho de Nininho, que mudaram Fausto de função, deixando Nininho como jardineiro da mansão.
Nininho trabalhava o tempo todo assobiando e algum tempo depois, o dono da mansão, Sr. Constantino, percebendo sua afinação lhe disse: “quem assobia afinado tem dom para a música, porque você não compra
um instrumento?”. Nininho sempre muito esperto e antenado, no mesmo instante, largou o que estava fazendo e foi até uma banca de jornal comprar o jornal Primeira Mão para comprar um violão, pois lembrou dos irmãos cantadores do sertão e de Sandoval que era autodidata e tocava muito bem violão. Comprou seu violão e foi a procura de um professor. Como tudo na vida parece estar escrito, Nininho encontrou um professor baiano de Santo Amaro da Purificação, professor Hélio Brás. Teve apenas três aulas e na primeira aula, Hélio disse que Nininho era um aluno diferenciado, tinha muita facilidade para aprender a tocar violão. Neste meio tempo, conheceu dois amigos cearenses Val e Zé que também começaram a ensinar a tocar violão e logo Nininho já dominava o instrumento.
Aos vinte anos Nininho começa a compor e a fazer pequenos shows. A Sua música é influenciada pelo espírito do sertão, pelas paisagens, pela mulher, pelas lendas e costumes do povo nordestino, pela fauna, flora, geografia e relevo da caatinga nordestina, pelo cheiro do mato e pelo sentimento de respeito às tradições.
Em 1997, Nininho começa a participar das rodas musicais e conhece o grande Gereba, cantor, compositor e violonista, nascido em Monte Santo e criado em Uauá até os dez anos de idade. Gereba tem músicas gravadas por grandes nomes da música popular brasileira, tais como: Fagner, Amelinha, Beto Carvalho, Diana Pequeno e muitos outros. Faz shows em Nova Orleans, Texas e Califórnia, é o criador do CarnaForró, que gerou o famoso circuito Barra – Ondina.
Conhece também o ator, poeta e cantor João Bá, de Crisópolis, sertão da Bahia, que tem suas músicas gravadas por Almir Sater, Hermeto Pascoal, Diana Pequeno, Bendegó, entre outros. Em 2000, com vinte e seis anos, grava seu primeiro CD, intitulado “Eu Vim de Longe”, com participação de Hélio Brás, Mariane Reis, do grande poeta João Bá e do renomado Gereba.
Em 2004 Nininho participa da novela “Metaphorses”, da Tv Record, a convite do diretor e ator Zé Vicente, que ouviu seu cd “Eu Vim de Longe” e a música “Saudade de Monte Santo” chamou sua atenção, pois ele havia participado da mini série “O Pagador de Promessas”, da Rede Globo, gravada em Monte Santo-BA, e ficou encantado com a cidade e sua gente. Convidou Nininho para cantar e tocar a música “Raridade”, tema do Boteco do Gueto, criado na novela.
No mesmo ano grava seu segundo CD “Na Sombra do Umbuzeiro” produzido e arranjado voz e violão por Gereba. Neste CD surge a primeira parceria com Gereba na música “Na Sombra do Umbuzeiro”, e neste mesmo disco também surge a primeira parceria com João Bá na música “Minha Fulô de Liz”. Em 2005 após sua aparição na novela, viaja para Uauá a convite do então prefeito Jorge Lobo, para participar do São João, a pedido do ex-prefeito, o coronel Jerônimo Ribeiro, grande admirador do trabalho de Nininho. Também participa do histórico show de Gereba em Euclides da Cunha cantando para mais de vinte mil pessoas.
Estando em Uauá encontra o renomado cineasta Hermano Penna, que já estava na cidade há alguns dias, filmando o documentário “São Paulo de Uauá”, e convida Nininho para participar, contando sua história e cantando suas músicas. Em 2006 grava o CD “Pirilampos”, com participação de Gereba, João Bá, Carlos Silva, Silvany, Joab e Arleno Farias, que estava com duas músicas nas novelas globais “Esperança” e “Sinhá Moça”.
Em 2007 Nininho após participar do encontro de Canudos em São Paulo, fica indignado por Uauá não ter um encontro destes aqui, tendo em vista o grande número de pessoas da região que moram aqui e chama e convence os amigos Batista, Lindomar e Rogério para fazer o primeiro “Encontro Uauá São Paulo. Enfrentam muita dificuldades, mas Nininho fica feliz com o resultado, pois esperavam duzentas pessoas e vieram oitocentas. Hoje o encontro conta com três mil pessoas.
Alegres com o sucesso do primeiro encontro, fizeram um singelo DVD e foram até Uauá para exibir em praça pública. As pessoas ficaram maravilhadas com nossa iniciativa. No dia seguinte, na casa do Lindomar, Nininho foi procurado por Eguinaldo, da Coopercuc, para fazer um projeto para comemorar o sucesso das vendas do umbu e a boa aceitação no exterior. Passado um ano ele ligou para Nininho em São Paulo cobrando o Projeto. Nininho ficou preocupado com a importância de tal projeto e procurou seu amigo Lindomar para fazerem juntos, mas Lindomar disse que não queria mexer com isto e que era para Nininho se virar. Nininhoficou muito preocupado e começou a perguntar para um e para outro até que conheceu uma produtora que se dispôs a ajudá-lo a fazer o projeto da primeira festa do Umbu. Encontrou com Magali por mais vinte vezes, até que ela entendesse a toda mecânica do sertão e da importância do umbu para economia de sua gente. Hoje a “Festa do Umbú” se tornou “Festival Regional do Umbu” e está em sua sexta edição e tem até cobertura da rede Globo desde sua primeira edição e movimenta a
economia de Uauá e região. Nininho nunca foi reconhecido como um dos criadores e nem sequer conseguiu participar como cantor, apesar de estar anunciado como atração em sua primeira edição.
No terceiro encontro “Uauá São Paulo”, depois de vencidas as primeiras dificuldades e tendo em vista o grande sucesso do evento, mesmo contra a vontade de Nininho, os três amigos resolvem tornar o encontro uma associação e denominam “AUSP-Associação Uauá São Paulo” e Nininho, contrariado, sai fora.